A vida, por vezes, tem um travo a amargo. Há que fazer frente ao aborrecimento, com uma vontade de ferro. O tédio pode ser um enorme gancho que se enrola à cabeça, dentro dos nossos cabelos. Como se fosse um fantasma que existe sempre por detrás de cada distracção e espreita por cima do nosso ombro. Não nos enganemos: os fortes aspiram a separar-se e os fracos a unir-se. Talvez tudo o que passe do medíocre, tenha em si o excesso e o erro. Ao fugirmos da mediocridade que é fecunda, somos vítimas de uma ansiedade de natureza pior. Vive-se de forma poeirenta, tal como uma peregrinação no deserto. Afinal, a vontade de ferro é como uma pupila de Deus. Uma sede que nos acorda. Nula possibilidade da lucidez. Dante já dizia que a" v ontade, se não quer, não cede. É como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la."