Venenos de Deus Remédios do Diabo

Na memória, em hora de ponta, quando a cabeça se fecha, tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Há que ter ombros fortes mesmo para as cargas mais leves. Engolir o coração, para se poder amar bem mais. Aquilo que não te acrescenta, em nada te fará falta. Melhor mesmo, é derramar gasolina e acender o fósforo.

O problema é o que fica.  E a gestão do que não fica. Que o amor me morda, se isto não é verdade.

São desperdício. Os meus querem-se para abraçar, para fazer um nó cego no teu pescoço. Os teus, trepadeiras, abraçadas  ao meu tronco rumo ao céu. O melhor instante do mundo dentro de um abraço.

"Todos nós, que sonhamos e pensamos, somos ajudantes de guarda-livros num Armazém de fazendas, ou de outra qualquer fazenda em uma Baixa qualquer. Escrituramos e perdemos; somamos e passamos; fechamos o balanço e o saldo invisível é sempre contra nós. Escrevo sorrindo com as palavras, mas o meu coração está como se se pudesse partir, partir como as coisas que se quebram, em fragmentos, em cacos, em lixo, que o caixote leva num gesto de por cima dos ombros para o carro, eterno de todas as Câmaras Municipais." Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. 

Desaparecidas. Aquelas que nos oferecem pernas de gigante, onde andam? A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida  está no amor que não se dá, nas forças guardadas,  na prudência do egoísmo. A dor é inevitável, já o  sofrimento é opcional. Deus sabe que isto é a mais pura das ver dades.

  d i z o palestino morador da Faixa de Gaza .  Eis que um bebé, nasce do ventre da mãe morta.  A natureza, segreda um milagre, a contrariar o desespero, de quem já não quer nada com a vida.

Escrever na alma. Para que me possas ler por trás dos meus olhos. Se não existirem riscos, existem vazios.

"do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração."

d o que muito acom panhado. Isto de administrar mal as solidões, tem muito que se lhe diga. Miguel Torga já dizia que "n as duas grandes horas da Vida — a  de nascer e a  de morrer, o homem bebe sózinho o seu cálice. No trajecto entre os dois pólos, acobardado pela maior consciência da espessura da bruma, arregimenta amigos e companheiros. Mas a sua unidade é ele.  Mesmo que consiga ter à volta a maior multidão, vai só." Ao que eu acrescentaria orgulhosamente só.

Não cabe numa única teoria,  nem na casa de um mudo em desespero.  Teoria, o sangue que não estanca.  A vida que obriga a cambalhotas desnorteadas, a operações a sangue frio e  depois nos ilumina com uma manhã solarenga. Gostava de saber o que é feito do teu carácter, ou a falta dele por  mera curiosidade. E não vale a pena andares atrás de Deus, que ele também tem a sua vida.

Há que responder com incoerências a perguntas desconcertantes. Uma espécie de simulador de vidas.

E nada mais que a verdade. A franqueza é o elo mais forte da união de amigos incondicionais.  Quem espera apenas elogios, definitivamente não é merecedor de uma amizade  legítima .  Os verdadeiros amigos, não são mais que o desapego do engano? A verdade meus amigos, não é mais que um passaporte de primeira classe para o destino certo. Nietzsche já dizia, que  a s convicções são inimigos da verdade, e bem mais perigosos que as mentiras. 

De olhar para os dois lados antes de atravessar as minhas vontades.

O chão nos meus olhos e o  cansaço que me enrola as pernas. Uma estrada escancarada no coração e o contra gosto a arder na língua. Insensatez de ir até tão longe, sem se chegar a lado algum.

As bolas de sabão que esta criança  Se entretém a largar de uma palhinha  São translucidamente uma filosofia toda.  Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,  Amigas dos olhos como as cousas,  São aquilo que são  Com uma precisão redondinha e aérea,  E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,  Pretende que elas são mais do que parecem ser.  Algumas mal se vêem no ar lúcido.  São como a brisa que passa e mal toca nas flores  E que só sabemos que passa  Porque qualquer cousa se aligeira em nós  E aceita tudo mais nitidamente.  Alberto Caeiro

"De açúcar e especiarias, é disso que as meninas são feitas, diz um verso infantil.  Quanto ao resto, há um cromossoma X e muitas pistas." Teresa Telles

Vivemos de pensamento em pensamento, de sensação em sensação. A vida é def inir marcos, a saltar de um para o outro, passando por milhares de instantes de morte.  Butler   dizia que "p ara si próprio cada um é um imortal; pode saber que vai morrer, mas nunca saberá que está morto." Como Cornelio Agrippa, sou Deus, sou herói, sou filósofo, sou demónio e sou o mundo, o que é uma forma cansativa de dizer que não sou.    

D eixar o passado no passado, e algumas pessoas do presente lá bem embrulhadas. Não é a imobilidade, nem a falta de batimentos cardíacos que determina um óbito.

como a fizeres,  estará contigo em qualquer parte. Vale a pena viver, nem que seja para dizer que não vale a pena.

 e entendido muito o que tenho visto.  E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá.  Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa. Fernando Pessoa

"O que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o que mais dói. O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que  fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade não magoa – vai magoando; a subfelicidade não martiriza – vai martirizando. Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse. Mas é: a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas p

É o inicio de outra história. É sonhar com o convite para a festa da eternidade É limpar os pés no tempo. Aos 40 anos, já não se corre atrás do autocarro da escola, procura-se os limites da ilha. A pele já não se atrapalha com o sopro dos ventos fortes. Parece uma epidemia a convicção actual de que “a vida começa aos 40”.  Se, ao alcançar os 40, uma mulher chegasse à conclusão de que o que se passou antes, foi apenas um preâmbulo para uma vida – e não a vida em si, com toda a sua quantidade de drama e de nadas,  haveria um motivo bastante legítimo para se matar. Sinto que quando chegar aos 50 anos, ainda vou rir da ternura dos 40. Pasmada com a velocidade do tempo, acordei assim. Com uma vontade imensa da aragem da Primavera. Há sempre uma primeira vez, e cá está o meu primeiro texto dos "entas." Agora se me dão licença, vou ali aproveitar a vida e já volto. Como disse John Lennon, a vida é o que acontece enquanto fazemos planos.  Se não é a frase mais perfeita

Ter um cão que envelhece cerca de sete vezes mais rápido do que nós, é ver passar a nossa própria vida.  As faculdades degradadas, o envelhecimento, o temperamento mais calmo e a energia em fuga.  Só o amor e a lealdade permanecem, coisa demasiado grande para os homens agarrarem. Obrigado Barnabé pelos momentos felizes.

Lembro-me perfeitamente do som do teu primeiro choro - tinhas chegado ao mundo com toda a força de Vida. Lindo, frágil mas atento, de olhos brilhantes, prontos a iluminar caminhos. Hoje o aniversário é teu, mas o presente é todo meu.

Que é a boa, a verdadeira indignação.  Existe uma doença do espírito: o mal da indiferença cívica. Todos estamos moralmente doentes." Fonte -  La Verdad (1994) Autor - Saramago , José

E sou substituída por um clone com defeito de fabrico. A pior versão. Mal humorada, preguiçosa, introspectiva, antisocial e gulosa quem nem o garfield em fúria.

A bagagem é pesada.  Há muita roupa suja para lavar. Acabar o que se começa não é tarefa fácil. O absurdo vestido de realidade. Salve-se quem puder na selva castanha dos teus cabelos.

Mostras os dentes à toa. Prefiro ver-te sorrir com os olhos, e meter os pés pelas mãos. Isto das fotos não terem legenda, tem o seu encanto. Sempre tive fascínio por quem é de verdade.

O mesmo coração, novos amores e antigas decepções . Está tudo tão anos passados.

Velhice versus juventude. - Não achas que já passamos a idade de fazer isso? Só se entende o que se entende conosco .

O tempo tem asas.  E tem sido tão bom voar contigo, sobre o céu aberto. Já não és o bébé pequenino ao meu colo. És vida a crescer dentro de mim a cada instante. És o meu orgulho, e quero continuar a ser não só a tua mãe, mas a tua grande companheira de aventuras e desventuras ao longo do caminho. E que me perguntes sempre, como fazes todas as noites, se me podes chamar se precisares.  Ser o teu porto seguro é uma dádiva. Amo-te.