Vida

Hoje da parte da tarde, falava com uma amiga de sempre sobre a vida de nunca.

Quando chegamos finalmente à maturidade, parece que não existe um delito humano ou um qualquer esplendor, ainda que apagado, que a nossa vida já não tenha autopsiado.

A vida parece não encaixar no nosso corpo e nós já não somos nós.

Fomos roubados por algo que nos domina.

Olhamos para a vida de cima para baixo, e já nos falou de tudo, especulou, especula, sugere, argumenta, contradiz, confirma, dá brilho, apaga, mente e engana.

Glorifica o superficial e negligencia heroísmos, troca de dono, mete-se em tudo quanto é buraco da alma.

Pena que, na maioria das vezes, faça tudo isto superficialmente.
Mas quando toca na ferida, iguala-se, certamente, às grandes tragédias gregas, aos frescos renascentistas, às muitas músicas de todos os tempos.

Será a vida igual á caixa de Pandora?

Que quando se abre espalha todos os males no nosso mundo?

Mas segundo a lenda, no fundo da caixa escondia-se ainda a espera de alguma coisa.

A ver vamos o que a vida ainda tem para nos revelar.