O irreversível. Em que nenhum mal, ou defeito, existe nas coisas senão a evidência impiedosa de elas serem assim. Mas nada existirá mais triste do que assistirmos a essa forma de o tempo nos dizer que o que não aconteceu jamais poderá vir a acontecer, foi apenas por não ter sido. Talvez Eduardo Prado Coelho tenha razão: O amor poderá vir, deslizando lentamente, para dentro do amor, como se o amor tivesse corredores, portas, vozes do outro lado da parede, chuva lá fora, mesas com comida, néons, luzes violentas, imagens calcinadas, escadas, respirações suspensas. Como se o amor fosse o dentro de um dentro que apenas se torna visível na superfície muda das coisas, na beleza siderante dos vestidos, na brancura austera das camisas, nas unhas geladas, no fumo dos cigarros, na melancolia absorta das vozes. E este dentro tivesse a cadência, passo a passo, de uma repetição infinita, a dimensão espectral de um não-acontecer que todos os dias acontece, a amargura de uma distância entre aqueles qu...