Maus Hábitos
Mas não deviamos.
A morar numa casa sem vista.
E porque não tem vista, deixamos de olhar lá para fora.
E porque não se olha para fora, nem vale a pena abrir os cortinados.
E assim se esquece o sol, a brisa, a vida .
Ouvimos falar das cheias, dos terramotos e das guerras.
E aceitando isto, aceitamos os mortos e que haja números para os mortos.
Habituamo-nos a esperar o dia inteiro e não ouvir o telefone tocar.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser instigados, conduzidos, e desnorteados.
Ao choque que os olhos levam da luz natural.
Habituamo-nos a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas para criarmos anticorpos.
Afasta-se uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Poupa-se o peito.
Deixamo-nos ir para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto habituar, se perde de si mesma.
No meio disto tudo já nem sei o que é bom ou mau.
Luis de Camões já dizia:.
"Os bons vi sempre passar no mundo graves tormentos;
E para mais me espantar, os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos."
Luis de Camões já dizia:.
"Os bons vi sempre passar no mundo graves tormentos;
E para mais me espantar, os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos."
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