Enfim, as coisas andam confusas

Nos dias de hoje, com a emancipação da mulher, faz sentido o homem ainda pagar todas as contas sozinho?
Faz sentido falar em chefe de família?
Eis o que me parece ser um fio condutor que resume  tudo isto: Existem muitas mulheres que não gostam de um homem sem dinheiro. Ponto. 
Isso está bem presente nos filmes de high school do John Hughes, nos épicos bíblicos, nas condutas das princesas dos contos de fadas, nas madames de alta classe, nas ligações perigosas que se estabeleciam nas cortes imperiais, nos votos que as mães de classe média fazem ainda hoje para as suas filhas, nas escolhas afectivas que as meninas andam a fazer neste exacto momento.
Mulheres não gostam de homens sem dinheiro por falta de sustento. Mas também, muito mais, porque  não concebem a ideia de sustentá-los.
Um homem sem dinheiro não tem utilidade. Um homem pobre, sem poder aquisitivo, não é homem. Eis a vida como ela é. 
Ainda há quem acredite, que a função do homem é prover. 
Um homem não precisa de ser bonito.
A potência financeira de um homem é muito mais importante, ao olhar feminino, do que a sua potência sexual. Isso é o que se espera do gênero masculino. Isso é o que faz dele um bom ou um péssimo partido: o tanto de dinheiro que ele tem capacidade de arrebanhar para o próprio bolso, e para as algibeiras da companheira.
Em contrapartida, a função das mulheres ainda é ser atraente. 
A mulher tem que oferecer, antes que tudo, uma boa matriz para reprodução dos genes da família – e para a linhagem do procriador. 
Isso é o que se espera do gênero feminino – a capacidade de ser mãe e de dar um prole saudável e bonita ao seu marido. Ela pode ser inteligente, justa, brilhante, articulada, instruída, viajada e lida que tudo isso é secundário. E não pode, inclusive, atrapalhar o seu valor central, que ainda está em ser sexy, bem apessoada, doce e dócil. Isso é o que fará dela uma fêmea desejada ao invés de uma “tia encalhada” para denominar um dos piores pesadelos femininos: não ser escolhida por  nenhum homem  ou ser rejeitada pelo conjunto de todos os homens.
Isto é ofensivo para aquelas mulheres que batalham desde cedo, e que decidiram não abrir mão da sua independência. Quando olham para o lado e vêem outras mulheres, a olhar por cima do ombro a sugerir, talvez sem enunciar uma palavra, que troquem esse plano de autonomia por um marido rico.
Talvez aí esteja a explicação para esse obsoletismo inacreditável com o qual ainda convivemos à larga. A alternativa a essa teoria, seria acreditar que tudo é apenas um acordo de conveniências selado num bordel entre homens dispostos a comprar e mulheres prontas para vender. 
Ser  bem sucedida, nessa acepção, é simplesmente conseguir ser vendida para o homem certo.
As escravas núbias, 2 000 anos antes de Cristo, deviam torcer pela mesma coisa quando eram ofertadas em praça pública. O que transformaria a sagrada instituição do matrimônio, na imensa maioria dos casos, e desde sempre, numa grande troca de favores com cheiro de cabaré. E quanto mais tradicional a união, mais intenso o odor.
É seguro reconhecer, que apesar de termos feito tudo o que já fizemos, ainda somos os mesmos e  há quem queira viver à imagem e semelhança dos nossos tetravós da Idade Média. Infelizmente.

"Tu és escravo, enquanto desejas alimentos abundantes de outrem. É melhor comeres o teu pão, que serás livre."
William Langland

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