Se Eu Soubesse Que Ias Morrer


E a morrer de saudades, escreveu-lhe uma carta sabendo que ele jamais a iria ler:
Meu querido, em breve fará um ano desde a tua morte.
Se fosse apenas este ano.
Como eu queria que fosse apenas este tempo que está a passar e prestes a chegar ao fim.
Sinto-me frágil.
A vida sem ti não tem sido fácil.
Tudo me faz recordar-te, e as saudades alastram-se por todo o lado.
No dia de todos os Santos, fui à tua campa levar-te um ramo de flores do campo, e um poema que tenho a certeza que deves ter lido vezes sem conta.
Como eu queria ser capaz de te recordar sem os olhos cegos pelas lágrimas.
Apenas continuo aqui entre os meus restos, a tentar enfrentar a realidade com a cabeça erguida.
Sinto esta dor tão forte enterrada em mim.
Que me rouba o apetite.
Me tira a vontade de sair e de festejar o meu aniversário.
É já para a semana, sei que me virás dar um beijo na testa enquanto estiver a dormir por volta das duas horas da manhã, a hora em que nasci.
Passei alguns dias na aldeia, basicamente nem saí de casa, perdi-me nos álbuns de fotografias, nas frases que disseste, nos filmes que partilhamos, na vontade imediata de te abraçar e de te beijar e quem sabe receber-te de novo em meus braços.
E falar até adormeceres, como de costume aquelas minhas conversas estranhas sobre estrelas, sobre sonhos, sobre nadas que para mim ainda significam tanto.
Ai se eu soubesse que ias morrer.
Batia-te, prendia-te antes que o fizesses, depois beijava-te e pedia-te para me explicares o que sentias.
Nunca tive a oportunidade de ouvir da tua boca, apenas o li na carta que me deixaste.
Só para te dizer, que talvez Jean-Paul Sartre tivesse razão quando disse que "estar morto é estar entregue aos vivos."
Resta saber qual de nós dois está entregue a quem.

Comentários

Anónimo disse…
Boas, esta não entendi..

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