Ai quem me Dera ter Outra vez Vinte anos

Em pequena o tempo pesava-me nas mãos e era uma eternidade.
Aborrecia-me não ser mais velha.
De olhos postos no céu sonhava com o depois.
Com os sapatos altos da minha  mãe atropelava o tempo a cambalear, e já tinha vinte anos.
De cigarro de chocolate ao canto da boca era-me permitido fumar.
Subitamente acordei no cataclisma das obrigações.
Daquelas que nos empurram para os dias previsíveis e repetitivos. 
Ficamos ranzinzas, e isso não se deve a idade, mas ao desgosto de ter uma agenda repleta de tudo menos de nós próprios.
Até o vento nos aborrece porque só serve para nos estragar o penteado.
E as piadas já tão escassas, têm que ser cada vez mais pesadas para arrancar o riso.
A vida sabe que não existe amadurecimento sem desapego. 
Sorte de quem compreender que temos que perder algumas coisas para absorver outras. 
De quem conseguir proteger a criança descalça que caminha no seu interior.
Afinal a vida é mesmo para pessoas de todas as idades. 


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