Fugas de Ultima Hora

Lisboa fugi de ti.
Em ti nasci, cresci, aprendi.
Brinquei à macaca em tardes de Verão.
Saltei ao elástico o mais alto que pude.
Gastei a bota botilde em campeonatos de rua.
Joguei à bola como um rapaz.
Encontrei os melhores amigos e os de sempre.
Dei o meu primeiro beijo aos 16 anos, morta de medo de falhar nem sem bem o quê.
Estudei contrariada. A vida era lá fora com o sol a bater na cara, e não dentro de casa amarrada ao que não era vivido.
Assisti ao casamento dos meus irmãos, nascimento dos primeiros bébés da familia.
Apaixonei-me verdadeiramente muito poucas vezes.
Namorei às escondidas até ser convidada a sair dos cafés com os lábios a latejar.
Fumei o meu primeiro cigarro às escondidas trancada dentro da casa de banho da escola.
Trabalhei árduamente para ter aquilo que desejava.
Encontrei o que julgei ser definitivo, um grande amor.
Casei a arder de desejo.
Fui mãe com o coração na boca até nascer a minha luz.
Um dia fugi de tudo.
Para uma terra de ninguém, com as malas feitas de saudade já ao partir, cheia do que não ia ter partindo para o desconhecido.
Mas, a intuição não me enganou.
Eu sabia que uma nova fuga, mas desta vez á pressa ia-se impor.
Não me pergunto porquê mas, sabia. Sempre soube.
Onde as raizes ficaram, há por colher o que não cresceu ainda.

Carla Godinho

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