Encontrámo-nos ou Perdemo-nos?


E nesse breve encontro abriram a janela.
Espreitaram com o corpo todo, e o sol bateu-lhes de chapa na cara dos sentidos.
- Estás bem?
- Sim. As coisas estão melhores agora.
E no pensamento, um tornado silencioso a aproximar-se.
Ele a tocar-lhe a pele e a cheirar-lhe os poros com os olhos.
-Estás arrepiada?
-Tens frio?
- Deve ser do ar condicionado.
Afinal era apenas o coração a descongelar, frente ao fogo da paixão.
O desejo cego passeava-lhe as mãos por todo o corpo.
E ela a ver-lhe a cara a brilhar pergunta:
- A tua sobrancelha treme. Estás nervoso?
- Não às vezes acontece-me.
Ele a conter as vontades sem idade com o corpo a denuncia-las.
Ela a pensar:
- Gostava de perceber. Mas quem me disse que tenho que perceber?
Eu sinto a mão do amor pendurada na minha boca e basta.
E ele a pensar:
Mas porque é que eu vejo e estou a pensar?
Nem devia pensar, apenas ver sem os olhos.
Seria bem mais fácil prender o sorriso colado aos lábios.
Ele diz-lhe:
- Tens o cabelo diferente. Deve ser do vento.
Afinal era do vento forte, tão forte que lhe saía pela boca e pelo nariz em descontrolo.
E ela perturbada, sorria como sempre, como antes.
A iluminar a mesa como uma criança insaciada e sem razão.
E ao despedirem-se sentiram os dois sem saber.
Mas afinal encontrámo-nos ou perdemo-nos?
Pascal tinha toda a razão:
"À força de falarmos de amor, apaixonamo-nos"

Comentários

Acho que nunca chegaram a encontrar-se...
Mag disse…
Este foi dos textos mais bem escritos que já li! Os meus sinceros parabéns!

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