Às vezes é necessário

Romper uma vida. Descoser costuras e deixá-las caír sem embaraço. Desligar um botão qualquer. Antes romper que estrangular. Afinal a afeição, deve ser sempre um processo lento para não nos pregar uma partida sem hora marcada. As desilusões domésticas têm o seu tempo. Agustina Bessa-Luís diz que as desilusões se transformam em cicatrizes que vão desaparecendo com o passar dos anos. E que é por isso é que nos velhos casais há uma recordação da vida em comum que se assemelha à santidade. Contam peripécias leves e dão ao passado um colorido quase caricato pela força do distanciamento em que se encontram. A verdade é que sofreram os mesmos desenganos e turbulências que hoje arrumamos, e pomos de lado sem darmos tempo de se transformarem em recalques. É uma explicação real, que normalmente não queremos pensar mas é necessária.