Consolo


Que parte de ti, velha e zangada, vandalizou o teu coração, para te arrastar assim, de repente, para a morte?
Acredito que tenhas entrado, numa espécie de maré pacífica, um grande e largo rio.
Que por aí, seja uma manhã solarenga.
Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não te deixe morrer à primeira.
Que te obrigue a pensar nas pessoas, nos animais, e nas flores de que gostas.
Que essa tua nova vida, mande mais em ti do que a morte definitiva.  
Como uma peste implacável, continues a amar, e que cresça de repente, no teu coração uma maré viva.
Que te curves sobre os canteiros, para cortar ervas daninhas, que não deixes deitar fora, como se fossem trocos sem valor, os restos de vida que continuam a cintilar dentro de ti. 
Sabes pai, há dores que fazem sentido, como as dores do parto. Mas, há dores que não fazem sentido nenhum. 
O teu coração parou.
Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada da médica, por achar ter feito, aquilo que havia a fazer.
A morte, e a vida não são contrários.
Talvez tenhas sido sábio, para permitir, que a morte fosse ao teu encontro em silêncio, quando a vida te suplicou para ir embora.
O meu consolo é saber, que não há nada, morte, nem ninguém, que possa roubar tudo o que viveste.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

É Carnaval O Amor Não Leva a Mal

Uma visita