Íssimo Cansaço


O Alberto Caeiro deve-me ter conhecido por aí algures noutra vida.
O que escreveu assenta-me hoje como um chapéu imperfeito, bem á medida do meu pensamento:

"O que há em mim é sobretudo cansaço.
Não disto nem daquilo.
Nem sequer de tudo ou de nada.
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço.
A subtileza das sensações inúteis.
As paixões violentas por coisa nenhuma.
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente.
Tudo isso faz um cansaço.
Este cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito.
Há sem dúvida quem deseje o impossível.
Há sem dúvida quem não queira nada.
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles.
Porque eu amo infinitamente o finito.
Porque eu desejo impossivelmente o possível.
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser.
Ou até se não puder ser.
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada.
Para eles o sonho sonhado ou vivido.
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto.
Para mim só um grande, um profundo. E, ah com que felicidade infecundo, cansaço.
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço."
Alberto Caeiro
Nada como ir dormir.
Talvez amanhã o meu cansaço acorde cansado de mim.

Comentários

Unknown disse…
è isso mesmo que sinto...gostava que o cansaço acordasse cansado de nós!
Beijo
Ultimamente também me tenho sentido assim...

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