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A mostrar mensagens de fevereiro, 2009

Roubei

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Como um cavaleiro audaz roubei a lua. E com ela as pequenas grandes verdades. As verdades brancas, que se passeiam como nuvens á frente da janela dos nossos destinos. Roubei a verdade de rir de morte desta cumplicidade acutilante. Roubei a fé da única árvore crente que vivia de braços abertos para o céu. Roubei os teus segredos e misturei-os com os meus, para que se guardassem mais. Roubei a raiz da razão, é que na verdade já nem te lembravas dela. Pensei em roubar a pedra do nosso caminho. Mas as pedras toda a gente pisa. Pensei que talvez tenhas mais verdades que eu, e na esperança dessa verdade ser verdadeira abracei-as como se fossem minhas. E na distracção de roubar o que não era meu o coração disparou. E sem perdão, levaste-me desprevenida pendurada de cabeça para baixo no teu ombro. Lá diz o ditado: Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão.

Tropa de Elite

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Lembrei-me há pouco deste filme e de uma frase que por aqui ficou perdida na cabeça e no coração: "Nóis goza, mas nóis sofre de culpa" Nada mais verdadeiro, e que se pode aplicar a tanto nas nossas vidas. Esta é a grande guerra do dia a dia. A inércia e a maldade, são sempre operadas a sangue frio pela culpa. A culpa será sempre uma péssima conselheira, porque se existe algo correu mesmo mal. Assaltar um coração é crime contra o amor? Saquear e pilhar o que se deu a alguém é legal? Roubar a esmola da cumplicidade dá prisão? Piratear o pensamento dá multa por exclusividade de direitos de autor? E sorrir de colarinho branco á despedida dá absolvição? Os culpados, poderão ser livres aos olhos da sua própria justiça. Mas ficarão para sempre, presos nas teias enroladas dos pensamentos em sobressalto. A punição que se sente na culpa, é como rematar uma bola em direcção ao céu e esta, desafiando a gravidade, desaparece. É impossível não ficar á espera que ela volte.

É Carnaval O Amor Não Leva a Mal

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E agora que é Carnaval, a única época assumida dos disfarces, é altura de dividir algumas reflexões. O amor persistente no tempo, nunca poderá ser o tema para uma história de amor, mas para uma farsa, um drama ou para um conto de terror, à la "Dormindo com o Inimigo". No cinema e nos livros, as histórias de amor acabam quando os amantes se juntam, ou quando o grande amor bate contra o muro de cimento. No Carnaval, ninguém levaria a mal a promessa do amor para sempre. O The End das histórias com o - e viveram felizes para sempre, deixa-nos a sonhar com a paixão como consequência definitiva. O destino adverso que separou os amantes, perderia o seu valor trágico se fossemos racionais e verdadeiros. Será que Romeu e Julieta continuariam a amar-se, se um dia conseguissem deitar-se juntos sem que o Romeu tivesse que escalar todas as noites a casa de Julieta? A apanhar frio, a cair vezes sem conta, a rasgar os lençois dela em cetim com os botins afiados, a assoprar de raiva nas noit

Se Tu Viesses Ver-me

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Um homem surpreender uma mulher, a meio de um dia de trabalho, com um poema sublime da Florbela Espanca só a pode obrigar a uma paragem obrigatória. "Se tu viesses ver-me hoje à tardinha A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses todo nos teus braços. Quando me lembra: esse sabor que tinha a tua boca, O eco dos teus passos. O teu riso de fonte. Os teus abraços. Os teus beijos. A tua mão na minha. Se tu viesses quando, linda e louca, Traças as linhas dulcíssimas dum beijo. E é de seda vermelha e canta e ri. E é como um cravo ao sol a minha boca. Quando os olhos se me cerram de desejo. E os meus braços se estendem para ti."

O Ilusionista Na Ilusão

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E a criança quer ser ilusionista. Com a magia dos deuses a saltar-lhe das mãos. Também eu quero ser. Arrancar coisas do chão. Do chapéu e do coração. Talvez assim me encontre a mim. Sem nunca perder a caixa dos segredos. Com os meus olhos a fazer estremecer o chão que não pisas. E não estender as cores do arco iris ao sol para não debotarem. Magicar um truque para que a solidão nunca mais fique sózinha. E com carácter de urgência agarrar qualquer coisa para te mostrar. Mesmo a custo de muito fingir. Atordoava o marasmo com o spray do fantástico. Construia com a mão aberta uma cama de espuma. Fazia desaparecer o colchão errado onde deitas todas as noites o corpo em sobressalto. Fazia o orgulho consumir os orgasmos suspensos. E continuaria a encantar-te. Fazia desaparecer da tua mão o copo da cerveja vazio como um final de verão. E fingia não matar a tua sede na perfeição. E para terminar punha a lua a fingir que não sorri do espanto que somos nós.

Ele Vem Aí?

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Talvez o grande amor tenha posto os pés ao caminho. No meio do sorriso de duas crianças de mãos dadas. No lar doce lar onde moram duas histórias. Desenganem-se, porque o grande amor não se chama eterno. Nem tem como segundo nome perfeição. Só e apenas verdadeiro. A espera que não marcou hora, e que ficou na fila das chegadas. A compreensão teimosa, não se vai cansar de insistir em nós. As dúvidas vestidas de oportunidades, porque as certezas passaram de moda. A distância a perder o braço de ferro com o perto. E nós apanhados na explosão de gargalhadas a saltar das bocas inquietas. As palavras reféns na prisão dos olhos, resgatadas pela boca a arrombar a porta do coração. O respeito a ganhar por maioria e á primeira volta. A ternura sem cautela e com sabor a algodão doce. Os primeiros beijos dados com os olhos a rodopiarem em passos persistentes. O abraço a apertar dois corpos numa alma só. Querer estar preso por uma vontade. A caminho vem o grande Amor. O que não teme a escolha porque

Abre

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- Abre amor. - Abre o presente agora. E ele com as mãos trémulas, desapertou a fina fita de cetim e fixou os olhos na saudade. Leu o bilhete que dizia: A saudade é que te vai ter agora. Ela vai visitar o teu coração regularmente sem avisar. E se a saudade te quiser torturar, sorri porque assim trocas as voltas à dor. A saudade é paz amor, acredita. Quando a sentires é porque já foste feliz. Antecipaste a hora da saudade, porque o ponteiro do teu relógio estava sem tempo como sempre. Não enlouqueças amor nestas horas sem pressa que virão agora. A saudade vai-te roubar as incertezas. Vai-te fazer crescer uns olhos fechados ao desejo. Vai acabar com o sobressalto dos segundos infinitos dos reencontros, onde nunca se acalmava a ânsia de nunca ter. Bebe a saudade como quem bebe um shot, queima mas bebe-se logo de uma vez. Deixa o sonho sonhar agora por ti. Pode ser? Sofre em paz, porque o pior dos sofrimentos é não saber o que é sofrer. Faz uma cara saudável, treina ao espelho se for precis

A Viagem

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E lá fui eu para mais uma viagem. Não planeei nada. Não tratei do bilhete nem das reservas. Clandestina lá entrei por uma porta qualquer. Vi-te na viagem com o mesmo destino a mim. O nosso encontro sempre nos abraçou. Encontrámo-nos em tantas épocas. Sorrimos para tantos mundos. Conhecemo-nos em tantos corpos. Tivemos palácios. Fomos pele. Fomos andarilhos. Fomos palhaços. Tivemos filhos. Fomos cúmplices em tantas artes. Juntos amarrámos os olhos ao azul do mesmo céu. Em tantas vidas. Tanta ternura. Sempre fomos tratados de paz. Hoje ao viajar, vi-te trancado a sete chaves. Sentado no lugar dos males do coração em classe económica.

Brindar na Lua

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Abandono o meu corpo ao teu critério. Vai um brinde na lua? Á descoberta da fórmula que não segue a lógica mas a desafia. Obrigado por me teres roubado a paz numa paragem obrigatória.

Volto Já

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Se ele pudesse deixar uma tabuleta na porta da vida dela seria sempre a mesma: Volto Já. Agora que acende um cigarro despreocupada, sente a boca com um travo a alegria. Imagina um anjo com barba por fazer, a subir ao cimo dele próprio. A penetrar-lhe a verdade. A queimar-lhe a pele com o amor intruso. E ela que lhe estoira o coração sem querer, com a boca ensalivada e cheia de palavras a ferver. Começa a despir-lhe a sensatez porque ele lhe roubou a vergonha. Reféns da pulsação em excesso de velocidade. Amor impossivel a avizinhar-se na possibilidade. E começam a viver intensamente, porque existem amores que já morreram. A verdade quebra o vidro das caras mascaradas, e desenha-lhes um sorriso claro. E não lhes peçam para amar isto ou aquilo, porque inconscientemente é como pedir a um gato que começe a ladrar. A vida não é feita de empates combinados. E ao olharem a lua revêem-se na graça dos olhos um do outro. Dividir uma só vida em vez de duas. E alguém se aproximou deles e perguntou:

Fruto Proibido

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O mundo inteiro não nos adivinha. Quem chegar primeiro espera. O local pode não ser o mesmo, mas basta um sinal para nos fazer encontrar. De manhã de tarde ou á noite. A claridade não nos atordoa. E abre-se fogo por entre os nossos dedos. Delírio de beijos sobre o ventre. Incendeiam-se as palavras. O medo escondido debaixo da cama. Despidos de bloqueios para amar-mos mais. Com os olhos trancados dentro do prazer. Só para mim os suores da tua testa pálida. Somos nós. Amar mesmo no intervalo do amor. As roupas abraçam-se no chão. Cheira a amor. E depois o que seremos? Amantes eternos na sofreguidão de um instante. Não mais que o charme da virtude, que deu ao pecado o gosto do proibido.

Escalar a Montanha do Sonho

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E Deus agarrou num punhado de terra, que ela tinha apanhado todos os dias, mandou-o para o ar e disse: - Vá, agora escala esta montanha, vamos ver do que és capaz! Ao olhar a montanha ela meditou: Não pude escolher a montanha que queria subir. Apareceu-me agora, de repente a meio do meu caminho plano. Mas no alto, a montanha acena-me com uma vista de sonho imperdivel. Daqui a montanha parece-me perto, mas sei que não é. Parece fácil. Mas é puro engano meu. E logo hoje, que trago o mapa no coração. Tão dificil de ler pelos cansados olhos da razão. As minhas pernas parecem-me fracas, mas vão desafiar os músculos a trilhar o caminho. Quem sabe se amanhã não estou já em frente ao topo da montanha? Sempre posso encontrar um rápido atalho. Sei que o prazer da montanha não está apenas em estar lá no cimo, mas na forma como a vou subir. Bem posso esquecer o provérbio grego de que a montanha vem até a mim. Vou ter que subir pelas pedras polidas pela chuva que me desorientam os pés, que me fazem

A Velhice Vai Bater à Minha Porta

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Sempre admirei os mais velhos. Aguçam-me a curiosidade de ouvir contar uma história de vida. Desde tenra idade, passava tardes sentada na cama da minha avó Natividade a ouvir histórias sem fim. Brincava horas, com os ganchos que lhe prendiam os longos cabelos brancos, num alinhado tótó que só a habilidade dela podia fazer. Tirava-lhe o anel verde, cor da esperança sabe-se lá em quê, e fazia-o cair pelos meus pequenos e finos dedos. Espreitava-lhe o sono várias vezes, sem ela nunca saber, a ver se ainda respirava. Quando a velhice bater á minha porta é inevitável deixá-la entrar. Como serei eu? Irei acordar, esfregar os olhos e não saber porque acordei? Nada me irá surpreender. Sentirei que tudo me é proibido sob pena de morte? Será nessa altura que vou levar a minha vida a julgamento? Sentirei que o meu corpo não é mais que um corpo gasto pelo tempo? Será o coração o primeiro a envelhecer? Os desejos vão ceder o lugar ás recordações. Vou querer mais rugas na cara que no espirito. Vou t

O Estranho Caso de Benjamim Button

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Um filme marcante. O amor não tem limites. Não tem tempo marcado. Pode andar ao contrário. Ama-se pela sabedoria da velhice. Ama-se como se ama um filho. A descoberta do surpreendente.

Estirpe do Ciúme

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Se a estirpe está a chegar queres me colocar em isolamento? Não tenho dono, mas o teu ciúme, é um latido que pode atrair muitos ladrões. O ciúme não é mais que um verme nesse enorme coração. Ele ataca como uma bactéria. Morde-te devagar. Sangras. Rasga-te os tecidos. Mina-te o peito de sobressaltos. Mas sabes em que se conforta essa loucura? O ciúme passeia de mãos dadas com o amor. Como dizia Rochefoucauld: O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele.

Pergunta:Porque Escreves?

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Perguntam: Porque escreves? Assim sem mais nem menos? Às horas mais impensáveis? Gosto de tagarelar um pouco com a minha intimidade. Partir a pedra exterior aos poucos. Sabem o que é o prazer de passear por dois mundos? Ao escrever sinto-me como uma criança que não sabe fazer os deveres. Um desafio que me dá direito ás mais impensáveis birras interiores, sem busca da recompensa final. Aqui nada fica por dizer. Sou uma mulher sem rosto. Ao escrever posso ser um erro do sonho. Posso ser de qualquer maneira. A escrita lambe todas as feridas. Pode-se apagar a tempo todos os enganos. Entendem agora? Sempre é melhor viver aqui, que morrer lentamente estupidificada frente à televisão. Como diz Saramago: "Somos todos escritores, só que uns têm a coragem de escrever e outros não"

O Amor Não é Trabalho Para Preguiçosos

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Esta cabeça está tão cheia meu amor. Tão cheia do peso, que o coração de tão pequeno não consegue carregar. Que sonhos tens tu agora? No meio do calor tórrido do deserto? As coisas que tenho apinhadas na cabeça são tantas que se empurram umas ás outras. Como as mulheres fazem na altura dos saldos. Como quem arranja um espaço impensável no metro apinhado, até as portas lhe entalarem os dedos. Como a quem falta o ar no elevador pesado, obrigado a parar antes do piso certo. Há um limite muito ténue na dúvida e na tomada de decisão. Passar o limite é uma questão de um segundo. De uma decisão que se toma ou não. Só nos apercebemos da importância dos nossos actos quando o segundo passou. Desperdiçio ou ganho. O amor não se entrega aos preguiçosos. Entre o seguir a direito numa marcha lenta, ou fazer-se um rápido desvio, jogamos a nossa própria existência. Já dizia Renard: "A Preguiça não é mais que o hábito que se contraiu de descansar antes da fadiga"