A Minha Casa na Terra

A casa fica em Tomar.
Aldeia Aboboreira Fundeira.
Terra dos meus avós e do meu pai.
É o regresso ao passado que me traz sempre um sorriso ao presente.
As origens moram no cheiro da terra.
Das paredes saltam segredos de familia.
Lembro-me dos meus avós à porta de uma casa humilde, inesquecivel.
Tinham sempre o sorriso a arder no meio da cara enrugada.
Vinham lá os netos.
A casa enchia-se de vida.
Corria escada acima escada abaixo.
Ia mexer nos caracóis.
Cheirar as flores.
Comer as uvas acabadas de apanhar sem serem lavadas.
Espreitava as galinhas.
Mexia nos coelhos de pelo fofo.
Esticava-me para apanhar as laranjas.
Há maior lembrança de pertença do que esta?
Hoje sou adulta.
Mulher.
Mãe.
Os meus avós despediram-se da vida.
Mas sempre que aqui venho vejo-os à porta a acenar e a sorrir como sempre.
Ainda trago na cabeça, o caminho para a velha fonte e ensino-o ao meu filho.
Ter uma casa na Terra é muito mais que ter a casa.
A casa humilde, hoje reconstruida e transformada num palacete não perdeu a essência.
As paredes dizem tudo.
Lá fora respira-se o cheiro das árvores, das queimadas, dos pinheiros.
No churrasco ainda existem objectos dos meus avós, velhos mas resistentes ao tempo.
O céu sempre a perder de vista.
À noite lá em cima estrelas aos milhares.
Ouve-se um mocho.
O silêncio do campo.
Autenticidade pura.
Aqui é impossivel não ser feliz.
Não sei se pelas origens ou por mim aqui.
Tenho sempre saudades ainda antes de partir.
Tenho que voltar aqui antes de o ano terminar.
Sei que ainda há caminhos, que os meus avós lá em cima me querem mostrar.
Sei que na tua terra deves sentir o mesmo.
Um dia vamos partilhar esta troca de sentimentos.