Primeira Noite


A minha primeira noite sem ti.
É sentir o fim do que não acaba.
O que veio inesperado e partiu em desespero.
É um fim para um novo começo de frente para o desconhecido.
Estranhei só uma almofada na nossa cama.
Deitei-me no meu lado de sempre. E senti que já não podia rolar até ao outro lado, agora vazio.
Vou dormir agora como há muitos anos atrás.
Estática, inanimada, na mesma posição até de manhã. Como se tivesse morrido.
Já não te ouço respirar, dar voltas na cama, até do teu leve ressonar sinto a falta.
Não ouço pedires-me para me aquecer no calor do teu verão em pleno inverno.
Quando acordar já não vou fazer torradas e leite com café.
Não vou apanhar a nossa roupa estendida na mesma corda.
Nem arrumar os teus sapatos que sempre deixavas pelo chão.
Não te vou dizer bom dia, nem perguntar o que vamos fazer hoje.
Nem pedir para baixares a música a berrar logo pela manhã.
Não te vou ver a correr para a Fnac, com ar de miúdo que vai ver os brinquedos preferidos.
Não vou protestar mais contra a rotina.
Nem vou planear onde vamos comemorar este ano a data de 6 de dezembro.
Sem o sorriso bem a arder, não vou abrir o teu presente de natal que não há.
Não vou engendrar um plano conjunto, para o pai natal trazer o presente do nosso filho.
Onde vou por o guizo do pai natal? Já não tenho a lareira por onde ele descia a muito custo, largava o presente e comia o bolo que lhe deixáva-mos.
O jantar que vou preparar já não é o que mais gostas.
O bolo gigante ainda quente já não vai ser para ti, sem chocolate é claro.
Vou passear nas ruas sem a mão dada á tua.
Não vou ver-te á minha espera nunca mais.
Quem me vai dar opinião sobre as minhas roupas?Repetias vezes sem conta que o meu gosto estava mais requintado.
Já não vamos comprar em conjunto o lego preferido do nosso filho.
Vou ter saudades de poder protestar para baixares a televisão de cada vez que viamos um filme, contigo a festejar-me os pés.
As férias, essas como sempre foi, vão ser marcadas por mim mas não para nós.
Com quem vou desabafar o meu cansaço, as minhas dúvidas abraçadas nos teus ombros que sempre me chamavam á melhor razão.
Já não vamos rir juntos das pessoas que passam, dos gato fedorento e das comédias da vida.
O teu nome nunca mais vai ter o meu, nem o meu o teu.
Mas se tudo isto é para seres feliz, a minha solidão fica ausente.
Porque o amor é tão simples como isto. Querer o teu bem, respeitar as tuas opções, sejam elas certas ou erradas.
Esta noite está fria, muito fria na minha casa.
Não consigo dormir estranha a mim e ausente de nós.
Vai amor, vai e sê muito feliz.
Eu fico por cá com a familia que construimos e que é a minha força, o meu porto de abrigo.
Sê feliz sem nós, vai.
Já dizia o Pedro Paixão:
"Um homem sem familia é como um cão sem dono"
Boa sorte nesse passeio sem trela.












Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma visita

É Carnaval O Amor Não Leva a Mal